Mal havia terminado uma pífia prova de História quando, sem aviso precedente ou advertência prévia, minha mimosa barriga, tão suscetível a adversidades e maus tratos, clamou por comida quente e bem recheada. Roonc! Roonc! Olhares de reprovação, junto de risinhos contidos, povoaram o meu breve horizonte. Roonc! Céus, e ainda não passavam das nove! Minhas infindáveis tentativas de domar minha fome foram em vão, em vão! Tardes sem Bono e manhãs sem bolo não me fizeram uma pessoa mais forte. Um banquete régio não me saciaria!
Em desespero crescente, adentrei na cantina, no bom e caro ambiente de trabalho de humildes funcionários em azul. Lado a lado, saudaram-me com expressões que iam do mais alto bom nível – “Ôah, firmeza?” – ao mais baixo e incrédulo nível das ofensas diretas – “Fala aí, viado, beleza?”.
Após ritos capitalistas que, se me permitem, oculto nessas linhas, dei a primeira mordida na massa quente e apetitosa do pão-de-queijo. Ah! Bem-aventurados aqueles que, numa casualidade divina ou obstinação convicta, inventaram o pão-de-queijo! Que minhas lágrimas (custoso pranto!) de gratidão lhes sirvam de agradecimento e/ou reconhecimento.
E, eis que por volta da quinta mordida, um sujeito afeminado e paradoxalmente muito barbado dá-me um soco nas costelas, de leve. Viro-me e ele me chama, simplesmente, de viado. Indignado, tento me defender, chamando-o de viadzinho. Ele me encara de alto a baixo e, perturbado com a afronta tão inesperada, vai para a cozinha prometendo revanche.
Nisso o Mario Bros e o Oliveira chegam em mim, ao mesmo tempo, e me perguntam, como se ainda não soubessem – pobres palermos -, se o barbado afeminado, mais conhecido como Erivaldo, era viado. Eu dou de ombros e forço um risinho simpático. O Oliveira abre os olhos até o máximo do humanamente possível e me pergunta, aos sussurros : “Vocês não tem um caso não, né?”. Eu dou outra – outra! – risada sem graça e digo que não, que não. Não, Po***! E vão para a cozinha, após o objetivo de encher-me a paciência ter sido cumprido com êxitos louváveis – me arrancaram sorrisos contagiantes, pois.
Enquanto mastigava a sexta mordida da deleitável comida dos deuses, quem me aparece? Chutem, chutem e chutem; não acertarão, vos digo! Por detrás do balcão, como que num passe de mágica, aparece o saudoso Seu Dionísio, tio do ricaaaço Celso. E o que ele vem me dizer? Ah, nada mais do que o provável, caros moçoilos! “Olha, esses caras são ‘tudo’ viado!”. São nessas horas que digo a mim mesmo, num solilóquio lastimoso, que Deus realmente não existe.
Onde já se viu pessoas adultas e maduras só falarem a respeito disso? Céus, é viado pra cá, viado pra lá. Viado em cima, viado embaixo. Ele é viado, você é viado. Eles são viados. Viado, viado, viado...
Sabe, às vezes, com tanta obsessão, chego a pensar que eles realmente são todos um bando de viados! Viadzinhos!
Coesos sejamos! Fortemente relutemos!
Alguém, por favor, vai comprar meu pão-de-queijo, porque eu estou esfomeado!
Voltar lá, nem pensar! Bando de loucos paranóicos!
Certo, certo. Seja forte, caro leitor. Assim termina, de modo brusco e sem criatividade, essa epopéia de trezentas folhas. Seja forte. Não chore em cima do teclado. Seja forte, e esmurre-me à vontade quando me avistar. É sério. E perdão, realmente peço perdão pela grande quantidade de palavrões proferidos. Senhoritas, perdoem-me.